Reforma do circuito de Interlagos custará R$ 160 milhões
No momento em que o gasto público para a realização de eventos como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos é bastante questionado pela população, a reforma de Interlagos, orçada em R$ 160,8 milhões, parece um contrassenso. Mas o retorno financeiro com a realização do GP do Brasil justifica um investimento tão alto.
Dados do Ministério do Turismo destacam a relevância da prova para o Brasil. "O automobilismo é um evento importante para a economia turística do país", afirma a pasta em comunicado. "A realização do GP do Brasil de F1 movimentou R$ 230 milhões durante o ano passado, entre investimentos de empresas particulares e gastos de turistas", completa.
Falando à REVISTA WARM UP, o presidente do conselho da Fecomercio SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), Marcelo Calado, explica que a etapa brasileira da F1 é o evento mais importante no calendário da cidade, levando em conta o retorno financeiro.
"Em termos de receita, a F1 representa o principal evento de São Paulo. Hoje, o turista que vem para a corrida deixa mais dinheiro, e o gasto médio é maior do que a previsão do turista que virá para a Copa do Mundo assistir a um jogo na cidade. Em termos qualitativos, o turista F1 é muito mais viável, muito mais rentável, do que o da Copa do Mundo", compara.
O Observatório do Turismo, núcleo de estudos e pesquisas da SPTuris, fez uma pesquisa com o público da etapa brasileira de 2012, comprovando que a prova é um dos eventos turísticos mais importantes do calendário.
A conclusão do estudo é respaldada pelo presidente da ABIHSP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de São Paulo), Bruno Hideo Omori. De acordo com o empresário, a F1 se compara às maiores feiras recebidas pela cidade, especialmente pelo público alvo.
"Há muitos anos é o evento de maior impacto econômico, principalmente por acontecer em um fim de semana e pelo volume de hóspedes qualificados", avalia. "As pessoas que vêm, como é um evento caro e fechado, são de bom ou ótimo poder aquisitivo, então são pessoas que vêm para gastar na cidade. Eu diria que para o turismo de São Paulo é o principal evento. O mais importante, o mais significativo em relação a valores gerados para a hotelaria, para o turismo, para táxis, para gastronomia, para casas noturnas e assim vai nos segmentos correlatos".
O perfil do público do Mundial também foi traçado pelo estudo do Observatório do Turismo. De acordo com os pesquisadores, mais de 87% são homens, com idade média de 34 anos. E mais de 45% do total tem renda superior a dez salários mínimos. Em média, cada turista deixa R$ 2,4 mil na cidade nos três dias do evento.
Para efeito de comparação, no Carnaval, a festa popular mais tradicional do país, os foliões gastam em média R$ 728 em São Paulo, contra R$ 986 durante o Salão do Automóvel. Em ambos os eventos, o tempo de permanência na capital paulista é um pouco menor do que na F1. Ainda de acordo com o estudo, os gastos relacionados ao GP do Brasil são, na maioria, com hospedagem (49,4%), lazer (16,5%) e alimentação (13,6%).
"Quando nós temos uma definição do título em São Paulo, a última corrida, aquela mais importante, nós temos quase 100% de ocupação na cidade", explica o presidente da ABIHSP. "Isso significa R$26,2 milhões em diárias vendidas", aponta.
Questionado pela WUp sobre o impacto que a ausência da F1 teria na indústria de hotéis, Omori afirma: "Seria muito negativo, até porque o fator maravilhoso que a F1 corresponde para a hotelaria de São Paulo é que ela acontece em um fim de semana, então ela foge do calendário corporativo", explica.
"São Paulo tem normalmente uma ótima ocupação durante a semana. Não chega aos 90% da F1, mas tem uma boa ocupação. No fim de semana, ela cai bastante. Sem a F1, a gente pode falar que perde, pelo menos, em torno de R$ 15 milhões diretos para a rede de hotelaria, só em diária", avalia.
Para garantir a manutenção da F1 e continuar a movimentar a economia da cidade, a prefeitura aceitou fazer a reforma necessária e planeja investir cerca de R$ 148 milhões. O dinheiro, entretanto, não deve sair dos cofres municipais. A gestão de Fernando Haddad busca recursos do Ministério do Turismo, que confirmou as negociações à WUp. "Há um termo de compromisso em negociação, que ainda não foi formalizado", afirma.
Questionado sobre os prós e contras de a verba para a obra de Interlagos sair dos cofres públicos, o representante da Fecomercio SP pondera: "Vamos começar pelos contras, que ultimamente têm aparecido. Você acaba direcionando investimentos para uma atividade econômica e beneficia menos setores", comenta. "Acreditando que um evento como este gera trabalho e renda, as pessoas terão condições de acessar uma educação, seja ela privada ou pública, acessar saúde, seja ela pública ou não, então o que o evento traz, ele traz para o evento e principalmente para a cidade. Esses são os prós."
"A gente tem exemplos clássicos, como Barcelona, que impulsionou investimentos para aquela região com a realização dos Jogos Olímpicos", lembra. "Um evento como este funciona como uma alavanca de geração de desenvolvimento, coisas que demorariam anos ou talvez não acontecessem. E a gente consegue concentrar em um curto espaço de tempo. Então, sim, eles são grandes alavancas de desenvolvimento", reforça.
Fonte:
https://forum.jogos.uol.com.br/_t_2636448
https://revista.warmup.com.br/edicoes/40/a-reforma-do-seculo.shtml