Blocos de São Paulo atraem até turista e entram na rota da folia nacional

“Passei o Carnaval em São Paulo!” Quem se atrevesse a cometer tal heresia tempos atrás ganhava em troca um carão de reprovação. Coisa do passado… A mais popular das festas brasileiras na maior metrópole da América do Sul entrou na rota dos turistas.

“Antes, todo mundo passava longe, inclusive os paulistanos. Agora, as pessoas querem vir para cá”, diz a administradora de empresas Verônica Alencar, 32, de Belém.

Pela primeira vez na festa paulistana, sua colega, a psicóloga Luiza Mazane, 37, também da capital paraense, surpreendeu-se com o tamanho da multidão que viu nas ruas.

Cerca de 2 milhões de pessoas passaram pelo Carnaval de São Paulo, segundo a gestão Haddad (PT). A expectativa é que 2% deles sejam turistas —ou seja, 40 mil. E 64% do total participaram dos blocos nas ruas paulistanas pela primeira vez, conforme pesquisa da prefeitura.

A designer de moda Lorena Abdala, 34, veio de Goiânia para curtir o Carnaval em SP (Marcus Leoni /Folhapress)

O número oficial de visitantes pode até parecer baixo ante o total de foliões nos bombadíssimos blocos, mas quando se olha para trás e se constata que não faz muito tempo “bombadíssimo” era um adjetivo que não cabia na mesma frase com as palavras “Carnaval” e “São Paulo”, o sucesso está mais que claro.

“Sabe a Paulista abarrotada na Parada Gay? O Carnaval de rua é uma extensão dela”, afirma a designer Lilian Flaitt, 35, de Bauru (SP). Ela e a amiga, a professora Carina Vieira, 27, uniram sagrado e profano numa só viagem.

“Deu para ir a blocos, restaurantes e ainda visitar o mosteiro de São Bento e a catedral da Sé”, conta Carina.

Boa parte dessa turma fica hospedada em casas de amigos, mas, diante do maior Carnaval de rua da sua história, sobrou para hotéis e hostels. O Sampa Hostel, da Vila Madalena, teve 85% de ocupação, segundo a dona, Deborah Cavalieri, 37, um aumento de 10% em relação ao Carnaval passado. Parece pouco, só que não. “Historicamente, o Carnaval era um período de baixa ocupação.”

Hotéis também comemoram a folia recorde, caso do Holiday Inn Parque Anhembi. Beneficiado por sua localização, pertinho do Sambódromo, teve 95% de ocupação, segundo o gerente Flávio Andrade, 58. Ele credita uma parcela da alta à explosão dos blocos. “Em 2017, esse fenômeno irá incrementar ainda mais a hotelaria.”

Presidente da Abih-SP (associação de hotéis), Bruno Hideo Omori, 38, segue em coro. Afirma que o setor já trabalha com previsão de crescimento de 15% para o ano que vem —com ou sem crise.

Claro que tal festa não é feita só de glitter e purpurina. Faltou estrutura em alguns blocos, por exemplo, e houve excesso de lixo nas ruas.

O português Paulo Jorge Martins Gaspar, 21, espantou-se com a quantidade de jovens bebendo e passando mal nos blocos da Vila Madalena. Sem falar no funk — para ele, “vulgar” e de “mau gosto”.

Bastava um giro rápido de metrô para perceber que as atrações não se limitavam ao circuito predominantemente “jovem e funkeiro” da vila.

Por todos os cantos da metrópole, os blocos desfilaram os mais diversos ritmos: do axé ao tecnobrega, do samba ao jazz, do punk ao funk.

“Está aí uma marca bem paulistana: o multiculturalismo”, ressalta a designer de moda Lorena Abdala, 34, de Goiânia. “E é justamente isso que está ajudando a criar uma cultura carnavalesca e a implodir aquele velho estereótipo de que a cidade de São Paulo não é do Carnaval.”

Pernambucano de Recife, morador de Belo Horizonte, Tarcisio D’Almeida, 42, professor de moda da UFMG, elogiou a produção dos seguidores de blocos. “As pessoas entraram no clima.” Diz mais:  “Há uma cultura carnavalesca em ebulição ocupando o espaço público. Numa cidade tão preparada para o turismo, o Carnaval de rua tende a se tornar uma vedete do  calendário festivo da maior cidade brasileira.” Oxalá!

Colaborou Emilio Sant’Anna

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