CARNAVAL 2015
Desfile no Anhembi começa hoje sob ‘ameaça’ da folia de rua
Crescimento dos blocos nos últimos anos põe em risco hegemonia das escolas de samba em SP
Incentivo público fortaleceu a ‘rua’, diz professora; para hotéis e restaurantes, ‘avenida’ ainda é mais lucrativa
O desfile das 14 escolas de samba do Grupo Especial de São Paulo começa na noite de hoje (13/2), às 23h15, no sambódromo do Anhembi, disputando como nunca a atenção com a folia dos blocos de rua, que cresce a cada ano. Uma homenagem aos cem anos do Palmeiras, feita pela Mancha Verde, abre a primeira noite. Outras sete agremiações fecham o evento amanhã.
Uma mistura de enredos como magia, adrenalina, fábula, jogo de cartas, a força da tempestade, Elis Regina, Marília Pêra, entre outros, irá embalar os foliões. Enquanto, em anos anteriores, os ingressos eram dados como esgotados às vésperas das apresentações, neste ano ainda há lugares disponíveis para todos os setores nesta sexta e para parte deles no sábado.
O incentivo público à festa vem caindo ano a ano. Foi de R$ 33,9 milhões, em 2014, para R$ 27,8 milhões, neste ano, sendo que R$ 4 milhões desse montante foram para a organização dos blocos de rua. O patrocínio privado também começa a dividir seu foco entre a avenida e a rua.
Grandes marcas de bebida continuam apoiando o Carnaval do sambódromo, mas os recursos estão indo também para blocos e festas em grandes bares. Ainda não há um balanço sobre essas verbas.
CAMPO FINANCEIRO
Para Marcia Merlo, professora de antropologia da Faculdade Santa Marcelina, blocos e escolas convivem há anos em São Paulo, mas o apoio institucional à folia de rua fortaleceu os grupos, que acabaram ganhando mais incentivos e mais atenção de mídia. “Não vejo contradição na existência dos dois tipos de manifestação. Muitos foliões saem em escolas e em blocos. A disputa vai se dar no campo financeiro, na busca por recursos. Tem-se a impressão de que a rua está falando mais alto, mas isso está ligado à atenção que os blocos tiveram pela administração pública”, diz.
TURISMO
Apesar da forte exposição dos blocos, para os setores de turismo e gastronomia, é o Carnaval das escolas o que representa maior lucro. Segundo a SPTuris (empresa de turismo municipal), a estimativa é que sejam movimentados até R$ 90 milhões com a circulação de turistas no sambódromo. Em 2014, foram 15 mil pessoas de fora de São Paulo no Anhembi.
Para o presidente da ABIH-SP (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Bruno Omori, por enquanto o Carnaval de rua é apenas uma expectativa futura para o setor, um fenômeno que envolve apenas o próprio paulistano. Já os desfiles têm ainda potencial de crescimento.
“Temos expectativa de 47% de ocupação nos hotéis da cidade no feriado, ante 45% de 2014, o que é muito bom. Perto do sambódromo, chega a 90%. Caso a folia de rua siga se fortalecendo, em dois ou três anos poderemos ter até 60% de vagas ocupadas”, diz.